Introdução: A ocorrência recente de um conjunto de surtos de dengue em países da lusofonia previamente livres de doença, despertou-nos curiosidade quanto aos fatores concorrentes para o fenómeno e a necessidade de aprofundar conhecimentos quanto à patologia. Revemos a situação relativa à dengue nos países da lusofonia, relacionando os diferentes surtos e procurando contribuir para um melhor conhecimento do fenómeno. Material e Métodos: Revisão da literatura relativa ao tema e informação relevante obtida de comunicações orais. Resultados: Os surtos ocorridos entre os anos de 2009 e 2013 em Cabo Verde, Madeira e Angola (para lá da doença endémica no Brasil) partilham o mesmo vetor Aedes aegypti, mas são devidos a serotipos víricos com diferentes proveniências, como constatado em estudos genotípicos. A forte sub-notificação da doença em África e as dificuldades no diagnóstico e terapêutica são obstáculos ao real conhecimento da situação. Discussão: A hipótese de ligação entre alguns dos surtos não está completamente afastada. Pela elevada mobilidade de pessoas entre estas zonas e pelas alterações climáticas em curso, o território de Portugal expõe-se ao risco de introdução de dengue. A luta principal, a despeito de ferramentas emergentes ainda utópicas, é sem dúvida o controlo vetorial. Conclusão: Não foi possível provar qualquer ligação entre os diferentes surtos, mas é necessária preparação local dos profissionais de saúde, bem como o estabelecimento de estratégias de saúde pública e manutenção de redes de vigilância. Mais estudos epidemiológicos e entomológicos são necessários para caracterizar a verdadeira incidência de doença nos países lusófonos. Palavras-chave: Dengue; Vírus da Dengue; Africa; Brasil; Portugal; Angola; Cabo Verde.