Resumo: A energia hidrelétrica é a principal fonte de energia renovável no mundo; no entanto, os impactos cumulativos das usinas hidrelétricas geram graves preocupações ambientais. Uma vez que as espécies de água doce são suscetíveis a modificações ambientais causadas por barragens, é necessário entender como as usinas hidrelétricas alteram a distribuição das espécies para prever e mitigar os impactos da expansão da geração de energia hidrelétrica, garantindo o fornecimento de energia e a conservação da biodiversidade.Avaliamos os impactos de usinas hidrelétricas na distribuição de uma espécie de quelônio endêmica e ameaçada, o cágado‐rajado (Phrynops williamsi). Para prevenir e mitigar os impactos, priorizamos locais para conservação da espécie, classificando as localizações de usinas hidrelétricas planejadas de acordo com seus efeitos adversos previstos na distribuição da espécie.Construímos modelos de nicho ecológico para estimar a distribuição da espécie e, em seguida, contrastamos a distribuição da espécie com as usinas hidrelétricas atuais e planejadas no Brasil para: (i) verificar se as localizações das usinas hidrelétricas coincidem com áreas de alta adequabilidade; (ii) avaliar a diferença na magnitude dos impactos nas espécies causados pelas usinas hidrelétricas em relação à sua fase de licenciamento e tipo; e (iii) identificar áreas prioritárias para a conservação da espécie nos locais onde estão planejadas novas usinas hidrelétricas com base em uma análise integrativa de modelos de nicho ecológico e conectividade hidrológica. Por fim, avaliamos o risco de extinção da espécie em vários níveis de acordo com os critérios da IUCN.As usinas hidrelétricas sobrepõem áreas de alta adequabilidade para a espécie, independentemente do tipo ou estágio de licenciamento. As diferenças nos impactos adversos entre os tipos de usina hidrelétrica foram determinadas pela área afetada e pelo grau de interrupção na conectividade. No futuro, a área impactada por pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) será quase igual àquela das grandes usinas hidrelétricas (UHEs), que atualmente têm os maiores impactos sobre a espécie. Nossa avaliação do status de conservação da espécie corroborou parcialmente avaliações anteriores e sugeriu que o risco de extinção foi subestimado em alguns níveis.Síntese e aplicações. Nossa abordagem metodológica de modelagem destaca conflitos potenciais entre geração hidrelétrica e a conservação da espécie. Essa análise pode ser uma ferramenta complementar para orientar decisões sobre a sustentabilidade ambiental de usinas hidrelétricas, revelando os padrões de impactos cumulativos dos empreendimentos em espécies fluviais e ecossistemas de água doce, subsidiando o planejamento de fornecimento de energia sustentável. [ABSTRACT FROM AUTHOR]