Resumo: Eventos de precipitação oculta (neblina, orvalho, garoa) podem alterar o balanço hídrico e nutricional das plantas, tanto diretamente através da absorção aérea de água e nutrientes, quanto indiretamente através da redistribuição de recursos atmosféricos para o solo. Contudo, esquemas teóricos vigentes que explicam a segregação de nicho, as interações e a coexistência de espécies ainda consideram que as plantas não‐epifíticas obtêm recursos somente através da absorção radicular no solo.Aqui nós propomos uma versão expandida dos nichos hidrológicos das plantas, que incorpora tanto o solo como a atmosfera como eixos de recursos, e assim proporciona uma visão mais completa de como as plantas não‐epifíticas terrestres obtém, remobilizam, compartilham, e competem por água e nutrientes solúveis.Primeiro, nós descrevemos as diferentes estratégias que as plantas usam para, direta ou indiretamente, acessar água e nutrientes de origem atmosférica. Segundo, nós argumentamos que o uso de recursos atmosféricos pelas plantas pode promover segregação de nicho (tanto espacial como temporal), e assim contribuir na distribuição e abundância das espécies nas comunidades vegetais. Nós ilustramos esses argumentos com exemplos em comunidades vegetais áridas, mésicas, e úmidas. Finalmente, nós examinamos como as mudanças climáticas e as perturbações antrópicas podem influenciar o nicho hidrológico das plantas, potencialmente alterando a estrutura das comunidades vegetais.Síntese: Entender como o uso de recursos atmosféricos pelas plantas influencia a segregação de nichos é um passo crucial para melhor predizermos a respostas das espécies (e.g., mudanças na distribuição, abundância e interações) às mudanças climáticas. [ABSTRACT FROM AUTHOR]