Políticas públicas para ampliação do acesso à educação superior e reorientação da formação médica no sentido de adequá-la às necessidades de saúde da população foram implantadas nas últimas décadas no Brasil. Este estudo teve como objetivo analisar o impacto destas políticas na redução das iniquidades de acesso à educação médica e na ampliação do número de médicos atuando na Atenção Primária e em municípios com maior risco de escassez de médicos. Foram utilizados dados secundários referentes a características dos egressos dos cursos de medicina, características das escolas médicas, além de dados socioeconômicos e sobre o sistema de saúde dos municípios. Nas análises realizadas foram avaliados como desfechos principais: a alteração da relação vagas de graduação e médicos por habitantes, e ampliação de grupos subrepresentados na força de trabalho médica. Entre 2010 e 2018 foram criadas 19.519 vagas de graduação de medicina em todas as regiões do país (120,2% de aumento), com incremento de 113.702 médicos na força de trabalho médica, sendo 74.771 no Sistema Único de Saúde. Houve aumento da relação médico por habitante, sendo o triênio 2013-2015 o período que apresentou maior aumento nos municípios com risco de escassez. Municípios do interior do Brasil que implantaram cursos de medicina apresentaram aumentos na relação médico por 1.000 habitantes superiores a municípios com características semelhantes, demonstrando a eficácia desta medida na retenção de médicos. As políticas de expansão do acesso à educação superior ampliaram o acesso de setores sub-representados da população nas escolas médicas, sendo a política de cotas a que apresentou maior impacto na ampliação da diversidade racial e econômica na escola médica. Médicos que foram beneficiários destas políticas apresentaram maior chance de atuar em municípios com menos de 20 mil habitantes, com baixo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e na Atenção Primária, após quatro anos do término da graduação. Médicos nascidos em municípios com menos de 20 mil habitantes ou com menor IDHM também apresentaram maior propensão de atuar em municípios com características semelhantes ao local de nascimento. Conclui-se que as políticas de ampliação do acesso à educação superior foram responsáveis por mudança no perfil dos egressos de cursos de medicina, ampliando a diversidade social e racial. As políticas de reordenação e expansão da educação médica demonstraram potencial para ampliar a força de trabalho médica nos municípios com maior risco de escassez. No entanto, persistem as desigualdades regionais e déficit de médicos em regiões menos desenvolvidas no Brasil. Nesta perspectiva, recomenda-se a ampliação e aprimoramento destas políticas. Public policies to expand access to higher education and changes in medical education to respond to the health needs of the population have been implemented in recent decades in Brazil. This study aimed to analyze the impact of these policies in reducing inequities in access to medical education and in expanding the number of physicians working in Primary Care and in municipalities with a higher risk of shortage of physicians. Secondary data were used referring to characteristics of graduates of medical courses, characteristics of medical schools, socioeconomic and health system characteristics of the municipalities. In the analyzes carried out, we evaluated the change in the ratio of undergraduate medical places, physicians per inhabitants ratio and the expansion of under-represented groups in the medical workforce. Between 2010 and 2018, 19,519 medical undergraduate vacancies were created in all regions of the country (120.2% increase), with an increase of 113,702 doctors in the medical workforce, 74,771 in the Unified Health System. There was an increase in the physicians per inhabitant ratio. The 2013-2015 triennium was the period with the greatest increase in physicians per inhabitant ratio in municipalities at risk of scarcity. Municipality in countryside that implemented medical courses showed increases in the physicians per 1,000 inhabitants higher than municipalities with similar characteristics, demonstrating the effectiveness of this measure in retaining physicians. Policies to expand access to higher education have expanded access for under-represented sectors of the population in medical schools, with the quota policy having the greatest impact on expanding racial and economic diversity in medical schools. Physicians who were beneficiaries of these policies were more likely to practice in municipalities with less than 20 thousand inhabitants, with a Low Human Development Index (HDI) and in Primary Care, four years after graduation. Physicians from municipalities with less than 20 thousand inhabitants or with a lower HDI were also more likely to work in municipalities with characteristics similar to the place of birth. 2022-04-29