A filosofia entregue ao saber sagrado de Atena sofreu uma inegável castração na modernidade, pois, seguindo Sloterdijk, passou a se relacionar com o cínico, subjugando-se à aparência. Por esta razão, a literatura alemã diferencia entre Kynismus e Zynismus. O kynismós com "k" refere-se aos cães sábios da ágora e o Zynismus ao papillon desdentado. Sob as chaves da modernidade, a filosofia camufla-se na moderação, no bom discurso e na etiqueta de salão, abandonando assim a estridência, o sarcasmo e o desafio que a escola de Diógenes praticava; mas o que foi essa insolência? Qual foi o seu discurso? Quais foram seus gestos? Estas são algumas das questões abordadas neste artigo; por isso, a reflexão sobre a figura do cínico, do autor da Crítica da Razão Cínica, tem sido central para elucidar algumas dessas questões e, por que não, obscurecê-las, afinal, os interstícios das palavras são mais profundos Por razões metodológicas, o texto está dividido em três seções: primeiro, Ressonâncias de um conceito suplantado, em que se investiga a ligação entre a insolência e o cínico; segundo, Gestos filosóficos, onde se traçam as caretas de um pensamento impertinente e terceiro, Conclusões. [ABSTRACT FROM AUTHOR]